A pandemia de COVID-19 provocou um verdadeiro abalo nas finanças de brasileiros de todas as classes. Em poucos meses, níveis de dívida familiar, empresarial e pública dispararam, exigindo soluções urgentes.
O Endividamento das Famílias Brasileiras
Antes de 2020, cerca de 60,80% das famílias brasileiras já estavam comprometidas com dívidas, mas o cenário se agravou durante o período crítico da pandemia.
Em 2023, a Região Sul registrou picos de 90,7% de famílias endividadas, recuando levemente para 88,1% em 2024. Já o Sudeste manteve níveis ao redor de 77,1% em 2024.
As principais causas desse salto expressivo de endividamento incluem:
- amplo uso de cartão de crédito e compras parceladas;
- crédito consignado entre aposentados e assalariados públicos;
- queda abrupta de renda devido à contração do mercado de trabalho formal e alta informalidade.
A ausência de salário fixo e a necessidade de cobrir custos básicos transformaram dívidas em mecanismo de subsistência emergencial. Para conter o colapso, o governo implementou o auxílio emergencial, linhas de crédito especiais e prorrogação de prazos de pagamento, buscando dar fôlego às famílias mais vulneráveis.
Endividamento Público
O setor público federal também sentiu o impacto financeiro do combate à pandemia. Em fevereiro de 2020, a dívida bruta estava em 75,3% do PIB. Em 2021, esse índice chegou a 93,1% do PIB, reflexo dos gastos emergenciais e do déficit primário de R$ 703 bilhões, equivalente a 9,41% do PIB.
Apesar do cenário crítico, em 2022 houve redução para 76,8% do PIB, graças ao superávit primário e à recuperação da arrecadação. A dívida líquida, que alcançou 58,3% do PIB em outubro de 2022, manteve-se estável, sinalizando recuperação gradual.
Entre os fatores que elevaram o endividamento público, destacam-se o pagamento de auxílios emergenciais, financiamentos a empresas e investimentos no sistema de saúde para conter a pandemia. A retomada econômica, o resgate líquido de títulos e a valorização cambial contribuíram para a estabilização dos índices.
Endividamento das Empresas
Entre 2019 e 2021, o estoque de dívida bancária das empresas não financeiras cresceu 26%. No setor industrial, o aumento foi de 23%, mas alcançou 59% quando se excluíram grandes conglomerados, como Petrobras e Vale.
Os motivos que levaram as empresas a recorrerem ao crédito incluem:
- busca de liquidez para enfrentar a queda de receitas durante o isolamento;
- taxas de juros históricas baixas, com Selic em 2%;
- programas governamentais como Pronampe e Preac, que ampliaram o acesso ao crédito.
Embora as grandes empresas tenham mantido sua solidez patrimonial, micro e pequenas empresas foram as mais afetadas, perdendo entre R$ 9,1 bilhões e R$ 24,1 bilhões em faturamento na primeira onda da pandemia. Muitas fecharam as portas ou renegociaram dívidas para sobreviver.
Consequências Socioemocionais e Percepção Social
Além das implicações financeiras, o endividamento trouxe um forte impacto emocional. Pesquisas indicam que nove em cada dez brasileiros sentem vergonha de estar endividados, o que revela o estigma social associado às dívidas.
Outro dado alarmante mostra que aproximadamente 78% dos brasileiros afirmam ter sofrido prejuízos em suas finanças pessoais, enfrentando dificuldades para manter contas em dia e reorganizar o orçamento.
Disparidades Regionais
O aumento do endividamento não foi uniforme. Regiões como o Nordeste, menos expostas ao crédito antes da crise, registraram variação de 8,9 pontos percentuais entre 2019 e 2020. O Sul permaneceu em patamares elevados, enquanto Norte e Centro-Oeste tiveram avanços significativos após a chegada de linhas de crédito emergenciais.
Perspectivas Futuras e Recomendações
Se mantidos os atuais níveis de dívida e a fragilidade fiscal, o Brasil poderá enfrentar inflação alta, elevação da taxa de juros e restrição ao crédito, comprometendo a criação de empregos. Contudo, também há sinais de estabilidade, sugerindo que o país alcançou um teto de endividamento no curto prazo.
Para indivíduos e famílias, algumas ações práticas podem ajudar a retomar o controle financeiro:
- construir uma reserva de emergência, mesmo que modesta;
- renegociar dívidas com credores para obter juros mais baixos;
- educação financeira e planejamento orçamentário contínuos;
- diversificar fontes de renda e reduzir gastos supérfluos;
- buscar orientação de especialistas e programas de apoio público.
Para empresas, é fundamental manter disciplina financeira, revisar contratos de crédito, investir em inovação e aproveitar linhas de financiamento mais vantajosas. O setor público deve priorizar políticas fiscais responsáveis e fortalecer redes de proteção social.
O cenário é desafiador, mas a experiência adquirida durante a pandemia pode servir de alicerce para um futuro mais sustentável. Ao unir responsabilidade fiscal, educação financeira e planejamento estratégico, é possível transformar a adversidade em oportunidade de crescimento.
Referências
- https://blogdoibre.fgv.br/posts/disparidades-regionais-do-endividamento-familiar-e-os-vieses-comportamentais
- https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2022-11/divida-bruta-do-brasil-fica-perto-do-nivel-antes-da-pandemia
- https://www.portaldeperiodicos.idp.edu.br/bee/article/download/5543/2233
- https://www.iedi.org.br/cartas/carta_iedi_n_1223.html
- https://www.ipea.gov.br/portal/categorias/45-todas-as-noticias/noticias/13845-estudo-evidencia-o-impacto-devastador-da-pandemia-para-micro-e-pequenas-empresas
- https://www.serasa.com.br/imprensa/estar-endividado-e-motivo-de-vergonha-para-9-em-cada-10-brasileiros/
- https://www.cdlcacoal.org/blog/pandemia-impactou-as-financas-de-oito-em-cada-dez-brasileiros-aponta-cndlspc-brasil-266&categoria=novidades
- https://ojs.focopublicacoes.com.br/foco/article/view/8383
- https://revistacaribena.com/ojs/index.php/rccs/article/view/3095







